terça-feira, 6 de outubro de 2009

GRIPE "A" É BANAL

"Há claramente um excesso de alarme, de zelo" (…) "não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal" (…) "o melhor contributo da Ordem dos Médicos é chamar a atenção dos médicos e, através deles, das pessoas, de que isto é uma doença banalíssima e que não é preciso andarmos todos assustados".
Pedro Nunes

Para o Bastonário da Ordem dos Médicos esta gripe serve apenas como uma oportunidade para criar algumas normas de educação cívica.

3 comentários:

Anónimo disse...

E quem ganhou com toda esta histeria ???

O S Unas disse...

Essa é que é essa

Unknown disse...

UM BASTONÁRIO IMPRUDENTE OU MAL AVISADO?

por João Vasconcelos Costa (virologista)

O dr. Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, criticou, em conferência de imprensa, o "excesso de alarme e zelo" na resposta à gripe A H1N1. "Não passa de uma gripe, uma doença banal, pouco letal, (...) isto é, uma doença banalíssima e não é preciso andarmos todos assustados." Quanto a não andarmos assustados, de acordo. Lembro o lema que adoptei desde o princípio desta gripe: "não há razão para alarme, há razão para preocupação informada". Tudo o resto dito pelo bastonário merece algumas observações.

Um bastonário não é qualquer pessoa, representa toda uma profissão essencial em relação a este assunto (embora, inevitavelmente, com membros seus a dizerem dislates), e vem legitimar uma corrente de opinião que está a menorizar a pandemia de gripe. Já não se trata de pessoas com comportamentos primários, como se viu ao princípio, agora são frequentemente pessoas educadas.

O dr. Pedro Nunes é oftalmologista, deve ser pouco versado em virologia ou infecciologia. Por isto, presumo que tenha pedido conselho a colegas especialistas, nos órgãos da Ordem. Se não o fez, foi imprudente. Se o fez, foi mal aconselhado.

Muitos clínicos, e parece-me ser este o caso, não compreendem a diferença de raciocínio para a saúde pública. Os clínicos lidam com doentes, com indivíduos, pensam em termos da gravidade do caso clínico. A saúde pública lida com grandes números, também com impactos económicos e sociais. Neste caso, para muitos médicos, a gripe é aquela mão-cheia de doentes que vão ver, feliz-mente com quadros clínicos geralmente benignos. Para um epidemiologista ou um decisor de saúde pública, esta gripe são dois ou três milhões de infectados. Para um virologista, esta gripe é jogo de escondidas com um vírus traiçoeiro, que de repente (esperemos que não) se pode mostrar não tão amigável.

Custa-me ver que a maior figura da classe médica não saiba ver uma coisa elementar: as consequências globais - incluindo as sociais - de duas doenças (no caso, duas variantes da gripe, a pandémica e a sazonal) com a mesma gravidade clínica individual e a mesma taxa de mortalidade são completamente diferentes, em grandes números, consoante o número de casos e a "taxa de disseminação" (termo incorrecto mas de compreensão geral) da doença. Numa gripe sazonal podemos ter à volta de 1000 mortes, na pandémica podemos ter 10.000. Isto é o mesmo para o bastonário?

Por outro lado, o dr. Pedro Nunes afirma concordar com o nosso plano de vacinação, independentemente de já ser muito significativa a percentagem de médicos que, por vezes emocionalmente e sem fundamento, declaram não quererem ser vacinados. Não percebo esta incongruência na posição do bastonário. Então uma doença banalíssima justifica o gasto enorme de 3 milhões de doses de vacina, na situação de constrangimento financeiro do SNS? E justifica que grávidas sem patologias especiais - mas internacionalmente consideradas como primeiro grupo de risco - fiquem para trás, em prioridade, em relação a médicos? Que médicos, os que vão tratar, segundo o bastonário, uma doença banalíssima, provavelmente, a seu ver, quase uma constipação a tratar com cama e chá quente?